ARQUEOLOGIA X BÍBLIA


Atenção: abaixo você encontrará a seqüência de informações sobre uma das mais controversas descobertas arqueológicas sobre Jesus Cristo. 
O último texto é o mais atual, os primeiros mais elucidativos sobre a importância arqueológica.

Tiago, filho de José, irmão de Jesus

No segundo semestre de 2002 esta notícia apareceu em todos os jornais: foi encontrado um ossuário, datado de 62 D.C., onde estava escrito: Tiago, filho de José, irmão de Jesus. Seria esta a mais importante descoberta arqueológica sobre o Novo testamento? Abaixo você encontrará reportagens, fotos e comentários sobre o tema.
O texto original desta suposta importante descoberta foi publicado na revista Biblical Archeology Review


Texto 1: Pedra encontrada em Jerusalém faz primeira referência a Jesus
Texto 2: Única referência concreta a Jesus Cristo pode ter sido encontrada em Israel
Texto 3: Arqueologia - Tiago, filho de José, irmão de Jesus
Texto 4: O ossuário e suas revelações
Texto 5: Evidência de Jesus, escrita na pedra
Comentários: ver comentários
Fotos: ver fotos
Texto 6: Cresce a desconfiança da autenticidade do ossuário do "Irmão de Jesus"
Texto 7: Frase "irmão de Jesus" teria sido acrescentada a "Tiago, filho de José" em ossuário; autor da descoberta nega queInscrição sobre Cristo pode ser falsificada  
Texto 8: Inscrição de irmão de Jesus é falsificada
Texto 9: Fraude histórica: dono de falsa relíquia é preso em Israel.
Texto 10: O Ossuário é realmente uma fraude?
Texto 11: Peritos negam que ossuário de irmão de Jesus seja falso


Texto 1

Pedra encontrada em Jerusalém faz primeira referência a Jesus


Jerusalém, 22/10/2002 
Arqueólogos acham gravação em pedra de 2.000 anos que teria guardado ossos de Tiago, suposto irmão de Cristo

Uma pedra encontrada em Jerusalém, ou perto dali, carrega uma inscrição feita em língua e caligrafia de 2.000 anos atrás que pode bem ser o mais antigo artefato encontrado relacionado com a existência de Jesus: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus".
A conclusão é de um estudioso francês que analisou a inscrição, que está sendo publicada esta semana na revista "Biblical Archaeology Review".. Se a inscrição for autêntica e se referir a Jesus de Nazaré, seria a mais antiga documentação sobre Jesus fora da Bíblia. A revista, que anunciou a descoberta ontem, está promovendo-a como "a mais antiga de todas as descobertas arqueológicas corroborando referências bíblicas a Jesus".
 Outros especialistas estão reagindo com cautela. Qualificam o achado como importante e desconcertante, mas dizem que será provavelmente impossível confirmar se há uma ligação definitiva entre a inscrição e algumas das figuras centrais do cristianismo.
 A hipótese de fraude não está excluída, dizem, embora o estilo cursivo da caligrafia e o exame microscópico da superfície gravada pareçam diminuir suspeitas. Uma investigação realizada pelo Serviço Geológico de Israel não encontrou evidência de pigmentos modernos, marcas de instrumentos modernos de corte ou outros sinais de falsificação. Estudiosos da Bíblia afirmaram em entrevistas que a evidência circunstancial de apoio a uma ligação com Jesus pode ser considerada forte, mas permanece circunstancial, de todo modo.
 Coincidência improvável
Embora Tiago (Jacó, ou Ya'akov), José (Yosef) e Jesus (Yeshua) fossem nomes comuns naquele tempo e naquele lugar, notaram vários especialistas, seria muito pouco comum achá-los na combinação e na ordem de parentesco encontrada na inscrição.
 As palavras, em aramaico, "Ya'akov bar Yosef akhui diYeshua", foram gravadas num tipo de urna funerária de 50 cm conhecida como ossuário. Acredita-se que ela guardava os ossos de um homem chamado Tiago, que teria morrido no século 1º d.C. O Novo Testamento menciona mais de uma vez que Jesus tinha um irmão chamado Tiago, que se tornou líder da comunidade cristã emergente em Jerusalém, depois da crucificação. Tiago teria sido o primeiro apóstolo a quem Jesus ressuscitado supostamente apareceu. O historiador judeu do século 1º d.C Josephus registrou que Tiago foi executado por apedrejamento por volta do ano 63. O Tiago da urna pode ter sido um de muitos Tiagos, mas o restante da inscrição estreita ainda mais as possibilidades. Primeiramente, segundo a prática comum, seu pai é identificado, neste caso um José. Raramente, no entanto, um irmão do morto seria acrescentado à inscrição, a não ser que o irmão fosse proeminente. O apóstolo Tiago pode ter querido proclamar uma última vez seu parentesco com Jesus.
 André Lemaire, pesquisador da Sorbonne em Paris e um renomado especialista em inscrições do período bíblico, calculou como extremamente escassa a probabilidade estatística de os três nomes ocorrerem nessa combinação. Ao longo de duas gerações na Jerusalém do século 1º d.C, provavelmente não mais que 20 pessoas poderiam ter chamado "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", e poucos poderiam ter sido enterrados num ossuário com inscrições. Outros cálculos ofertam probabilidades ainda menores.
"Parece muito provável que esse seja o ossuário do Tiago do Novo Testamento", escreveu Lemaire no artigo. "Se for, isso também significaria que temos aqui a primeira menção epigráfica [inscrição em material resistente" -por volta do ano 63 d.C.- a Jesus de Nazaré." Em outra passagem, ele reconhece que "nada nesse ossuário confirma claramente a identificação desse Tiago como aquele conhecido na tradição cristã".
Antes disso, segundo a "Biblical Archaeology Review", a mais antiga menção a Jesus estava num pedaço de papiro contendo um fragmento do Evangelho de São João, escrito em grego por volta do ano 125 d.C. Muitos dos mais antigos textos existentes do Novo testamento datam do ano 300 ou mais depois do tempo de Jesus. Acredita-se que o Evangelho de São Marcos tenha sido feito por volta do ano 70 d.C.
Assim como outros especialistas na Bíblia, James C. VanderKam, da Universidade de Notre Dame (EUA), elogia Lemaire como um reconhecido epigrafista (especialista em inscrições antigas). Para ele, sua pesquisa é meticulosa e as avaliações, judiciosas. "Como o trabalho vem de André Lemaire, eu levo muito a sério", disse VanderKam. "Se for autêntica, e parece ser, é uma valiosa confirmação não-bíblica da existência desse homem, Tiago."
Eric Meyers, arqueólogo e diretor do curso de pós-graduação sobre religião da Universidade Duke (EUA), afirmou que a raridade dessa configuração de nomes, em especial a inclusão do nome do irmão, "empresta um sentido de credibilidade à postulação". Meyers questionou porém se a descoberta, caso se refira de fato a Jesus Cristo, "dirá alguma coisa que já não se saiba". Ele e outros especialistas concordam que a figura histórica de Jesus já está bem estabelecida há muito tempo.
Joseph Fitzmyer, especialista aposentado da Universidade Católica de Washington, saudou a descoberta como significativa, se de fato se referir a Jesus. "Seria um novo atestado extra-bíblico de sua existência, e há poucas coisas fora da Bíblia que fazem isso." (JOHN NOBLE WILFORD DO "THE NEW YORK TIMES")
 Fonte: Folha de São Paulo


Texto 2
Única referência concreta a Jesus Cristo pode ter sido encontrada em Israel

WASHINGTON - Uma inscrição em um ossuário que foi descoberto recentemente em Israel parece ser a mais antiga evidência arqueológica de Jesus Cristo, de acordo com um especialista que acredita que ele data de três décadas depois da crucificação.

Ao escrever na Biblical Archaeology Review, Andre Lemaire, especialista em inscrições antigas na Practical School of Higher Studies da França, diz que é muito provável que o achado seja uma referência autêntica a Jesus de Nazaré.
A revista de arqueologia planejava anunciar a descoberta em uma coletiva de imprensa na segunda-feira. 
Que Jesus existiu não é uma dúvida para estudiosos, mas o que mundo sabe sobre ele vem quase que inteiramente do Novo Testamento. Nenhum artefato material do século primeiro relacionado a Jesus foi descoberto e verificado. Lemaire acredita que isso mudou, embora permaneçam dúvidas, tais como onde a peça com a inscrição esteve por mais de 19 séculos. 
A inscrição, na língua aramaica, aparece em um ossuário vazio de pedra calcária. Lê-se: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus". Lemaire diz que o objeto data de 63 d.C.
Uma das línguas semíticas, o aramaico foi falado no Oriente Médio a partir do século sétimo a.C. e foi a principal língua do Império Persa do século quarto a.C. ao século sexto a.C. 
As primeiras evidências diretas do aramaico datam do século 10 a.C. e ele existe como língua viva até hoje, sendo falado em dialetos modernos por minorias no Iraque, Turquia, Irã e Síria. Acredita-se que a maioria dos falantes está em comunidades de emigrantes da Armênia e da Geórgia. 
Lemaire disse que o estilo de escrita, e o fato de os judeus usarem ossuários somente entre 20 a.C. e 70 d.C., colocam a inscrição na época de Jesus e Tiago. Os três nomes eram muito comuns, mas ele estima que somente 20 Tiagos existiram em Jerusalém durante a época. 
Além disso, colocar o nome do irmão e o do pai no ossuário era "muito incomum", diz Lemaire. Há somente um outro exemplo de um ossuário em Aramaico encontrado até hoje. Desse modo, esse "Jesus" em particular deve ter sido uma pessoa importante - ou o próprio Jesus de Nazaré, como conclui Lemaire. No entanto, é impossível provar que o Jesus escrito no ossuário é, de fato, Jesus de Nazaré.
A revista de arqueologia diz que dois cientistas da Pesquisa Geológica do governo israelense realizaram um detalhado exame microscópico da superfície e da inscrição. Eles informaram no mês passado que "não há evidências que possam tirar a autenticidade da peça". 
O dono do ossuário também pediu a Lemaire para proteger sua identidade, então a atual localização da caixa não foi revelada. 
Tiago é considerado o irmão de Jesus no Novo Testamento e líder da Igreja em Jerusalém no Livro dos Atos e nas cartas de Paulo. No século primeiro o historiador judeu Josephus escreveu que "o irmão de Jesus conhecido como Cristo, de nome Tiago", e foi apedrejado até a morte sendo considerado um herege em 62 d.C. Se seus ossos foram colocados em um ossuário, isso teria ocorrido no ano seguinte, com a inscrição datando de 32 d.C. 
O reverendo Joseph Fitzmyer, professor de teologia na Universidade Católica que estudou fotos da caixa, concorda com Lemaire na idéia de que o estilo de escrita "se encaixa perfeitamente" ao de outros exemplos do século primeiro e admite que a aparição desses três nomes famosos juntamente é "impressionante". "Mas o problema é, você tem que me mostrar que este Jesus é o Jesus de Nazaré, e ninguém pode mostrar isso", diz Fitzmeyer. 
O dono do ossuário nunca percebeu sua potencial importância até que Lemaire o examinou no início do ano. Hershel Shanks, editor da Biblical Archaeology Review, viu a caixa no dia 25 de setembro.  Lemaire disse à Associated Press que o proprietário quer o anonimato para evitar longos contatos repórteres e religiosos. Ele também quer evitar o custo do seguro do artefato, e disse que não tem planos de expô-lo para o público. 


Associated Press / Agência Estado


Texto 3
ARQUEOLOGIA
Tiago, filho de José, irmão de Jesus
Uma urna mortuária descoberta em Jerusalém pode ser a mais antiga evidência material da existência de Cristo

Uma urna funerária de 50 centímetros de comprimento, esculpida há cerca de 2 mil anos, pode vir a ser a mais antiga prova arqueológica da existência de Jesus Cristo. Feita de pedra calcária, a caixa apresenta uma inscrição em aramaico, uma das línguas faladas pelos judeus naquele período, traduzida como 'Tiago, filho de José, irmão de Jesus'. A peça foi encontrada numa caverna de Jerusalém e pertence a um colecionador cuja identidade está sendo mantida em sigilo. Comprovada sua autenticidade, o ossuário se tornará uma preciosa evidência do Jesus histórico.
A descoberta foi anunciada segunda-feira em Washington, nos Estados Unidos, e seus detalhes serão publicados na próxima edição da Biblical Archaeology Review. O texto é assinado pelo francês André Lemaire, professor da Sorbonne e especialista em inscrições antigas, que conheceu o proprietário da urna há cerca de seis meses em Jerusalém. Na ocasião, Lemaire foi convidado a examinar algumas peças do acervo do colecionador e deparou com o ossuário. Impressionado com o objeto, sobretudo em virtude da inscrição em aramaico, Lemaire sugeriu um estudo detalhado. A caixa foi analisada por especialistas e cientistas do Departamento Geológico de Israel. De acordo com os exames realizados até o momento, a peça não apresenta sinais de pigmentos ou instrumentos modernos. O calcário do qual é feita foi identificado como originário da região de Jerusalém e sua moldagem foi datada como sendo do século I.
Os exames também indicaram que a pátina (a fina cobertura que se forma sobre a pedra e outros materiais com o passar do tempo) tem aspecto compatível com o de objetos guardados em cavernas por períodos prolongados. Além disso, as letras entalhadas apresentam um formato de escrita que só foi utilizado entre os anos 10 d.C. e 70 d.C., período que antecedeu a destruição da cidade de Jerusalém pelo Império Romano. Segundo historiadores, Tiago, um dos fundadores da Igreja de Jerusalém, foi morto pelos romanos em 62 d.C. Mas, como o ossuário estava vazio, não havia restos mortais a analisar, o que poderia ser outro elemento para comprovar a idade da urna.
Os pesquisadores explicam que, naquele tempo, era costume entre os judeus o uso de caixas mortuárias, os chamados ossuários, para guardar restos mortais dos entes queridos. O corpo era sepultado em cavernas, onde permanecia durante um ano. Passado esse período, os ossos eram recolhidos em pequenas caixas. 'Parece muito provável que esse seja o ossuário de Tiago do Novo Testamento', escreve Lemaire em seu artigo. 'Podemos estar diante da primeira menção epigráfica (inscrição em material resistente) de Jesus de Nazaré.'
Até o presente momento, não havia nenhuma evidência material da existência de Cristo. A mais remota referência a ele constava em um pedaço de papiro com um fragmento do Evangelho de São João, escrito em grego por volta do ano 125 d.C. 'Mas o fato de não haver evidência material não significa que ele não existiu', ressalta o padre Carlos Mesters, o mais renomado estudioso da Bíblia do Brasil. 'Infelizmente, às vezes usam isso para colocar tudo em dúvida.'
Independentemente dos resultados dos testes, a urna está destinada a produzir polêmica. Como todos os documentos históricos daquele tempo, ela é sujeita a uma série de contestações, de pesquisadores e religiosos. 'Parece bom demais para ser verdade', desconfia o pesquisador americano Robert Eisenman, autor do livro Tiago, o irmão de Jesus, avaliando a inscrição em aramaico. 'O material é interessantíssimo, mas minha primeira impressão é de que não há nada de autêntico', diz o historiador Jayme Pinsky, autor de uma tese de doutorado sobre a Palestina no tempo de Jesus. 'Acho muito mirabolante toda a história que cerca essa urna.' Segundo o editor da Biblical Archaeology Review, Hershel Shanks, a peça foi vendida ao atual proprietário há cerca de 15 anos. Custou então algo entre US$ 200 e US$ 700. Na ocasião, o vendedor, um negociante árabe, teria afirmado que a caixa era proveniente de Silwan, um subúrbio de Jerusalém. O proprietário, que não entendia as inscrições, não fazia idéia da importância que ela poderia ter.
'O fato de a urna ter sido datada como original do século I já reduz a possibilidade de se tratar de uma invenção. Mas a gente sabe que ao longo dos séculos foram criadas muitas relíquias piedosas para reforçar a fé', observa o bispo anglicano Sebastião Gameleira Soares, mestre em exegese bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Fraudes arqueológicas, criadas por pesquisadores interessados em divulgar grandes 'descobertas', também não são raras. A mais famosa é o fóssil do Homem de Piltdown, apresentado em 1912 na Inglaterra. O que era anunciado como um 'elo perdido' entre o homem e o macaco se revelou, após alguns anos, uma montagem grosseira de crânio humano com maxilar de chimpanzé.
Até agora, os testes indicam a autenticidade do ossuário de Jerusalém. Resta então uma dúvida sem perspectivas de um dia ser elucidada: se os nomes Tiago, José e Jesus, bastante comuns naquele período, se referem mesmo aos integrantes da família de Cristo. Pelos cálculos do próprio Lemaire, as probabilidades são de que, entre os 80 mil habitantes que viveram em Jerusalém no século I, cerca de 20 poderiam apresentar a mesma combinação de nome e parentesco citada na inscrição. Porém, a menção ao irmão em um ossuário é bastante incomum. No tempo de Jesus, as pessoas eram identificadas pela filiação, não pelo sobrenome. Assim, a referência a José, o pai, parece natural. O mesmo não ocorre em relação a Jesus. Dos mais de 2 mil ossuários judaicos que se conhecem, produzidos entre os anos 100 a.C. e 70 d.C., somente mais um fazia referência a um irmão. Tal exceção, argumenta Lemaire, só pode indicar a importância do irmão - e faria sentido no caso de Tiago, um dos primeiros a pregar que Jesus era o Messias. Mas há outras suspeitas a ser esclarecidas. Alguns arqueólogos, por exemplo, desconfiam da origem do ossuário, que não veio de uma escavação arqueológica com origem identificada.
'Não sei por que tanto barulho por causa dessa urna', diz o padre José Oscar Beozzo, historiador da Igreja Católica. 'Outras fontes fora da Bíblia já confirmaram a historicidade de Jesus.' Ele cita os escritos de Flávio Josefo, historiador semita que documentou a guerra dos judeus contra o Império Romano, que terminou com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Josefo fez menções a Jesus. O mesmo ocorre na obra literária do escritor romano Plínio. Beozzo ressalta que a partir dos textos do Evangelho foram localizados indícios arqueológicos considerados importantes para atestar a existência de Jesus (leia no quadro abaixo). A febre das escavações começou no século XIX, com uma expedição francesa que acompanhou Napoleão Bonaparte ao Egito e passou pela Palestina. No século XX, a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto trouxe a público em 1947 documentos tanto do tempo de Jesus quanto anteriores a ele.
O recente achado, caso tenha sua autenticidade comprovada, servirá de combustível para a polêmica sobre o fato de Jesus ter tido irmãos de sangue, uma antiga discussão entre protestantes e católicos. O Novo Testamento diz que Jesus tinha irmãos e irmãs, entre eles um chamado Tiago. Os protestantes sustentam que, depois do nascimento do Messias, Maria e José tiveram uma vida como a de qualquer outro casal. Esse argumento encontra base em diversas referências bíblicas, entre elas a que aparece no versículo 25 do primeiro capítulo do Evangelho de São Mateus: '[José] não a conheceu, enquanto ela [Maria] não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus'. A palavra conhecer era utilizada em citações como essa como sinônimo de 'ter relações sexuais'. Além disso, Cristo quase sempre é tratado nas Escrituras como 'primogênito' de Maria. 'Se ele foi o primeiro, outros vieram depois', diz o teólogo batista Ariovaldo Ramos. Para os protestantes, o sexo posterior ao nascimento de Jesus não macula o caráter virtuoso de Maria.
Os católicos crêem na virgindade eterna da mãe de Cristo. E assinalam que a palavra 'irmão', naquele período, era uma expressão usada para identificar não necessariamente parentesco sanguíneo direto. 'Nas línguas semíticas, como aramaico, hebraico, arcádico e egípcio, não havia um termo exato para designar os primos', explica o padre Ivo Storniolo, coordenador da tradução da edição revisada da Nova Bíblia de Jerusalém. 'No sentido usado na Palestina no tempo de Jesus, as pessoas eram chamadas de irmão até por pertencer a um mesmo clã.' Assim, Tiago e Jesus seriam primos. É aceita ainda a possibilidade de que ambos fossem irmãos por parte de pai. 'O ossuário pode ser o prego no caixão do argumento do primo', diz John Meier, professor de Novo Testamento da Universidade de Notre Dame. Para Meier, se Jesus e Tiago não fossem irmãos de sangue, a inscrição não se justificaria.
Irmão, meio-irmão ou primo, vale observar que o Tiago em questão não é o padroeiro da Espanha, que dá o nome à Igreja de São Tiago de Compostela e que teria sido testemunha da transfiguração e visto Cristo ressuscitado no Mar da Galiléia. O Tiago da urna é o chamado 'Tiago Menor', a quem a tradição atribui a Epístola de São Tiago. Polêmica à parte, o ossuário será exibido no Museu Real de Ontário, no Canadá, em novembro. A mostra servirá tanto para matar a curiosidade dos céticos quanto para alimentar a fé dos crentes em torno da suposta relíquia.
Fonte: Revista Época


Texto 4
O OSSUÁRIO E SUAS REVELAÇÕES 
Encontrada em uma caverna de Jerusalém, a peça pertence ao acervo de um colecionador de Israel cuja identidade está sendo mantida em sigilo. Ele adquiriu a urna num mercado de antiguidades há 15 anos

- O quadro Cristo Amortalhado mostra como era o enterro na Judéia 20 séculos atrás. A urna encontrada agora estava vazia, por isso não foi possível analisar os restos mortais para checar se eram compatíveis com esse período.


- Os judeus do tempo de Cristo usavam peças como a que foi descoberta para guardar ossos dos mortos. Passado um ano do sepultamento, realizado em grutas, os restos mortais costumavam ser transferidos para pequenas caixas de pedra (foto)


- Na lateral da caixa há uma inscrição em aramaico (foto), na qual se lê: 'Tiago, filho de José, irmão de Jesus'. O aramaico é uma das línguas semíticas e foi falado no Oriente Médio a partir do século VII a.C. Existe até hoje e é usado em versões modernas por minorias no Iraque, na Síria, no Irã e na Turquia. Esse tipo de caligrafia só foi utilizado entre os anos 10 d.C. e 70 d.C.
- Testes de laboratório indicaram que a pedra calcária da qual é feita a urna veio da região de Jerusalém e foi trabalhada há cerca de 2 mil anos. Também evidenciaram que a pátina - a fina cobertura que se instala na pedra e em outros materiais com o passar do tempo - apresenta formações com o típico aspecto de couve-flor, que costuma se desenvolver em ambientes de caverna. Além disso, nas varreduras por microscópio de elétron, os entalhes dão sinais de ter a mesma idade do ossuário.
Fonte: Revista Época


Texto 5
Tradução de um resumo da matéria publicada pela revista "Biblical Archaeology Review" 
Evidência de Jesus, escrita na pedra

Depois de aproximadamente 2000 anos, uma evidência histórica da existência de Jesus veio à tona. Uma inscrição foi achada numa antiga caixa de ossos, chamada de ossuário, onde se lê: 'Tiago, filho de José, irmão de Jesus'. Essa caixa é a única menção na era do Novo Testamento à figura central do cristianismo e a 1ª descoberta arqueológica que corrobora as referências bíblicas a Jesus.
As palavras grafadas na superfície da caixa mostram uma forma cursiva do aramaico, usada do ano 10 ao ano 70 d.C., segundo o paleógrafo André Lemaire, da Universidade de Sorbonne, em Paris, que garantiu a autenticidade da inscrição. O ossuário foi datado de 63 d.C., aproximadamente. Lemaire detalha toda sua pesquisa na edição de novembro/dezembro de 2002 da 'Biblical Archaeology Review', a publicação mais conhecida da área.


Inscrições antigas geralmente são encontradas em monumentos reais, tumbas e placas relacionadas a figuras públicas importantes. Mas Jesus, que foi criado por um carpinteiro, era um homem do povo. Então, achar qualquer documentação de sua família era inesperado.
No 1° século depois de Cristo, os judeus seguiam o costume de transferirem os ossos de seus entes das covas para os ossuários. A prática foi abandonada depois da destruição do templo judeu em 70 d.C. Não se sabe com certeza quando ou porque essa prática era feita, mas isso pode ser visto como um raro período de auto-identificação por parte dos cidadãos comuns e de líderes oposicionistas que gravavam seus nomes em pedras.
A nova descoberta também é significativa para comprovar a existência de José, pai de Jesus, e Tiago, líder de uma recém-criada igreja cristã em Jerusalém. As relações familiares descritas na caixa ajudaram os cientistas a terem certeza de que se trata de Tiago, irmão de Jesus. Apesar do três nomes contidos na caixa serem bastante comuns, a probabilidade de eles aparecerem naquela combinação é muito pequena. Além disso, a menção a um irmão não é comum, o que indica que o Jesus a que se refere a inscrição deveria ser muito conhecido.
Testes de laboratório confirmaram que o tipo de rocha da caixa vem da área de Jerusalém. A pátina - uma cobertura que se forma sobre as rochas com os anos - tem a forma de uma couve-flor, muito comum em ambientes de cavernas. Outro importante indício é que a caixa não traz traços modernos.
A caixa de 55 centímetros de comprimento é de um colecionador de Israel. Como muitos ossuários obtidos em antiquários, está vazia. Nem sua história e nem seu dono anterior são conhecidos. A caixa é um dos poucos artefatos descritos no Novo Testamento. Um exemplo é o ossuário de Caiphas, um padre do alto clero mencionado na bíblia), que foi achado em 1990. Outro é a descoberta, em 1950, de inscrições em um monumento que faziam referências a Pôncio Pilatos. 'O ossuário de Tiago pode ser a mais importante descoberta da história da arqueologia do Novo Testamento', diz Hershel Shanks, editor da 'Biblical Archaeology Review'. 'Isto tem implicações não apenas nos ensinamentos, mas na compreensão da bíblia'.


Comentários

Comentário 1
Alguns pesquisadores já calcularam que existiriam em Jerusalém, à época de Jesus, cerca de 20 pessoas com o nome de Tiago que seriam filhos de um pai com nome José e teriam um irmão chamado Jesus. Abrindo o leque para os Tiagos, filhos de um José e primos de um Jesus, esse numero certamente cresceria, mas não muito.
O que é importante ressaltar aqui é a inscrição do nome de Jesus. Não era costume colocar o nome do irmão (ou primo). Se se colocou o nome de Jesus, sem que este seja o falecido ou o pai do falecido, é porque esse Jesus era uma pessoa famosa. Bom, quantos Tiagos, filhos de José e irmãos (ou mesmo primos) de um Jesus famoso (!), existiam em Jerusalém por volta do ano 60 dC? A probabilidade de este não ser o "Tiago, irmão do Senhor", embora exista, é remotíssima.
Fonte: anônimo



Fotos
Fotos do Ossuário



As duas fotos acima são da urna pesquisada. Note no canto mais à direita a inscrição.



Detalhes da inscrição em aramaico


Capa da revista que publicou a reportagem. Note, de novo, a inscrição em aramaico.


 Detalhe da página da revista Biblical Archeology Review


Texto 6
Arqueologia
Cresce a desconfiança da autenticidade do ossuário do "Irmão de Jesus"

John Noble Wilford
The New York Times

É cada vez maior o número de estudiosos que levantam dúvidas quanto à autenticidade da inscrição em uma caixa de ossos que supostamente conteria os ossos de Tiago, um suposto irmão de Jesus. Este poderia ser o mais antigo vestígio arqueológico relacionado a Cristo.
Quando há cinco semanas foi anunciada a existência desta caixa de pedra calcária, ou ossuário, um estudioso francês declarou que a inscrição -- "Tiago, filho de José, irmão de Jesus" -- provavelmente era uma referência ao Jesus do Novo Testamento. A caligrafia, ele afirmou, correspondia ao estilo do aramaico do século 1 d.C.
Agora que diversos especialistas já analisaram fotografias da inscrição ou observaram-na em um museu de Toronto, eles admitem, de modo geral, a antiguidade do ossuário, mas alguns deles suspeitam que uma parcela da inscrição, senão toda ela, teria sido falsificada. Diferenças visíveis de caligrafia, eles afirmam, indicam que a menção a Jesus poderia ter sido acrescentada por um falsificador de tempos antigos ou modernos.
"Tenho, para dizer o mínimo, uma sensação muito ruim a respeito disso", afirmou Eric M. Meyers, um arqueólogo e estudioso de questões judaicas na Universidade Duke, durante um recente encontro de pesquisadores bíblicos e arqueólogos em Toronto.
Meyers afirma ter "graves dúvidas quanto à sua autenticidade", sobretudo por conta do mistério que envolve a origem do ossuário. Aparentemente ele teria sido encontrado por saqueadores em um sítio indeterminado e comprado em um mercado israelense de antiguidades. Arqueólogos profissionais não costumam confiar em artefatos de proveniência tão duvidosa.
Outras pessoas que examinaram o ossuário no Museu Real de Ontario ficaram mais impressionadas por terem notado que a inscrição aparentemente havia sido feita por duas mãos diferentes. A primeira parte -- sobre Tiago, filho de José -- teria sido escrita com tipos formais, enquanto a segunda, referente a Jesus, possui um estilo cursivo mais livre.
"A ocorrência de letras cursivas e formais em duas partes diferentes da inscrição aponta, segundo creio, ser ao menos possível que haja uma segunda mão", afirmou P. Kyle McCarter Jr., um especialista em línguas orientais da Universidade John Hopkins.
Andre Lemaire, o acadêmico francês e estudioso do aramaico que indicou que a inscrição estaria vinculada a Jesus, defendeu com convicção sua interpretação durante um encontro da Sociedade de Literatura Bíblica que também ocorreu em Toronto. Pesquisador da Sorbonne e especialista respeitado em inscrições do período bíblico, ele publicou suas descobertas na mais recente edição da revista americana Biblical Archaelogy Review.
Lemaire novamente defendeu que seria "muito provável" que a caixa de ossos tenha guardado os restos de Tiago, um dos primeiros líderes movimento cristão em Jerusalém, e que a inscrição era uma referência a Jesus de Nazaré. Apenas muito raramente o nome de um irmão era inscrito em um ossuário, ele afirma, e deste modo o Jesus mencionado deveria ser uma pessoa ilustre. Em uma entrevista Hershel Shanks, editor da revista que publicou o estudo de Lemaire, afirmou que havia ao menos duas razões que refutavam a tese da falsificação.
"Caso tenha sido o trabalho de um falsificador moderno, por algumas centenas de dólares ele teria adquirido um ossuário sem inscrição alguma, e somente um falsificador pouco inteligente não começaria do zero para que sua escrita fosse consistente", afirmou Shanks. "Além do mais, devemos presumir que o falsificador soubesse como falsificar a pátina -- algo que os outros desconhecem. Tudo isso é possível, mas muitíssimo improvável".
Em Israel, geólogos que examinaram o ossuário avaliaram que sua pátina - oxidação decorrente dos efeitos do tempo e do clima -- seria consistente com a estimativa de que a caixa possui dois mil anos de idade. Eles afirmaram ainda que não foram detectados sinais de posteriores adulterações na inscrição. Josephus, um historiador judeu do século primeiro, atesta que Tiago foi executado em 62 d.C.
Shanks é um dos autores do livro "O irmão de Jesus", que será publicado em março pela HarperSanFrancisco. Ali ele narra a descoberta e a interpretação do ossuário de Tiago, e juntamente com seu parceiro Ben Witherington III, estudioso do Novo Testamento, discute as implicações da descoberta para a compreensão de Jesus.
Mas a controvérsia não deverá desaparecer tão cedo.
O dono do ossuário, cuja identidade não é revelada pelo artigo de Lemaire, agora veio a público. Ele é Oded Golan, um engenheiro de Tel Aviv e ávido colecionador de artefatos do período bíblico. Convocado para depor à Autoridade de Antiguidades de Israel, Golan firmou ter adquirido o ossuário há 35 anos, mas não se lembrava do vendedor, segundo informou recentemente o jornal israelense Ha'aretz. Shanks afirmou que Golan não compreendera a possível importância do Ossuário até que Lemaire fosse visitá-lo no ano passado.
As autoridades israelenses afirmam que darão seqüência à investigação. O ossuário será devolvido a Israel após o encerramento da exposição em Toronto, que se estende até o final do mês. Outros pesquisadores entraram na discussão, e chamaram a atenção para possíveis indícios de falsificação.
Rochelle I. Altman, que coordena uma publicação virtual destinada a estudiosos de judaísmo antigo e se apresenta como uma especialista em inscrições, foi uma das primeiras a notar a aparente discrepância entre as caligrafias. "Há duas mãos que claramente possuem diferentes graus de instrução e duas caligrafias diferentes", escreveu Altman. "A segunda parte da inscrição contém as marcas de uma adição posterior fraudulenta e é, para se dizer o mínimo, questionável".
Daniel Eylon, um professor israelense de engenharia da Universidade de Dayton examinou a questão a partir de sua experiência com análise de falhas para a indústria aeroespacial. Aplicando uma técnica empregada para determinar se uma disfunção de uma determinada peça da aeronave ocorrera antes ou após o acidente, ele examinou fotografias das inscrições em busca de arranhões causados pela fricção da caixa com outras caixas na caverna ou durante a escavação.
"A inscrição estaria localizada sob estes arranhões caso se encontrasse na caixa à época do enterro, mas a maior parte dela está acima dos arranhões", afirmou Eylon. "E a nitidez de algumas letras não cai nada bem: cortes nítidos não resistem por dois mil anos".
Tradução: André Medina Carone


Texto 7

ARQUEOLOGIA – Folha de S. Paulo 19/11/2002

Frase "irmão de Jesus" teria sido acrescentada a "Tiago, filho de José" em ossuário; autor da descoberta nega queInscrição sobre Cristo pode ser falsificada

O que foi anunciado em 21 de outubro como a mais antiga indicação arqueológica da existência de Jesus pode não passar de uma fraude, feita para lucrar com o comércio de relíquias sagradas. Essa é a suspeita de um grupo de especialistas sobre o "ossuário de Tiago", que carrega a inscrição "Tiago, filho de José, irmão de Jesus".
Para eles, detalhes da caligrafia e do dialeto do aramaico (o idioma falado pelos judeus da época de Jesus na Palestina) usados na última parte da inscrição mostram que ela teria sido feita por outra pessoa, séculos depois da gravação original -provavelmente para associar a urna funerária a Jesus e obter lucro com isso.
"Seria preciso ser mais cego que um morcego para não ver que duas pessoas diferentes fizeram a inscrição", diz a pesquisadora israelense Rochelle Altman, especialista de sistemas de escrita antigos e professora da Universidade Hebraica de Jerusalém que teve seu alerta lançado no site Israel Insider (web.israelinsider.com).
"Para mim, essa era só mais uma inscrição. Eu nem sabia o que estava nela quando me pediram para analisá-la. Quando vi o que estavam dizendo dela, fiquei surpresa ao ver que não tinham notado uma farsa tão incompetente", disse Altman à Folha.
O ossuário -caixa de rocha calcária para abrigar os ossos de pessoas exumadas- foi revelado ao público pela revista americana "Biblical Archaeology Review". Para o francês André Lemaire, especialista em hebraico e aramaico da Universidade Sorbonne, a análise do artefato sugeria que ele pertencera a Tiago, líder da igreja cristã de Jerusalém e chamado de "o irmão do Senhor" no Novo Testamento. O francês nega que tenha dado destaque a uma falsificação.
Segundo Lemaire, apontavam para o Tiago bíblico o estilo da inscrição, o fato de ossuários só terem sido usados pelos judeus palestinos entre 30 a.C. e 70 d.C. e a combinação de nomes.
Altman, porém, diz que duas mãos muito diferentes fizeram a inscrição. "A primeira parte, que diz "Ya'akov bar Yosef", usa um estilo formal e solene, marcando as letras com uma cunha inicial para demonstrar isso", diz Altman. "É a mão de alguém com boa educação e que conhece os documentos oficiais da época, que usavam um estilo parecido."
Contudo, o trecho "ahui d'Yeshua", ou "irmão de Jesus", é bem diferente, afirma a pesquisadora. "Foi feito por um gravador incompetente, que nem consegue distinguir o "yod" [a letra Y] do "waw" [o W]", diz Altman. "Ele não consegue manter o mesmo estilo de letras e chega a misturar caracteres arcaicos com outros muito modernos", avalia.
O americano Paul Flesher, da Universidade do Wyoming, concorda. Ele analisou as palavras usadas na inscrição e diz que, enquanto a primeira parte está em aramaico "padrão", difícil de atribuir a qualquer dialeto, a segunda traz traços típicos da versão dessa língua falada na Palestina do final do século 2º até o século 7º da Era Cristã -muito tempo depois da morte de Tiago, no ano 63.
Uma dessas marcas é o sufixo possessivo "-wy" (que, colado à palavra "ah", "irmão", quer dizer algo como "seu irmão") -a forma usual no tempo de Jesus seria "-why". A outra é o uso do "d" em "d'Yeshua", que também tem sentido possessivo, ou seja, quer dizer "de Jesus".
Os dois são usados ao mesmo tempo -o que indicaria uma linguagem mais coloquial, diferente do aramaico usado na época de Cristo, diz Flesher. "Do ponto de vista linguístico, essa conclusão é óbvia", afirma o pesquisador.
Steve Mason, especialista nos textos judaicos do século 1º e pesquisador da Universidade de Oxford, concorda com a análise. "A análise de Flesher faz muito sentido, e note que ela lança dúvidas sobre a segunda parte da inscrição, que é contestada por Altman de forma ainda mais persuasiva".
Para os pesquisadores, as análises combinadas apontam para uma fraude montada por volta do século 4º, quando o cristianismo já estava se transformando na religião dominante e a busca por relíquias de Jesus e dos apóstolos estava crescendo. "Ou também para criar uma evidência em favor de Tiago como irmão verdadeiro de Jesus, um debate que estava acontecendo entre os cristãos da época", sugere Altman.
Mesmo com a contestação, Flesher diz que Lemaire tem boa reputação como pesquisador e que a análise é atípica. "Isso nunca teria acontecido numa revista científica", afirma o americano. "Acho que ele ficou tão excitado com aquilo que deixou de lado todas as evidências contrárias à sua hipótese", afirma Altman.

OUTRO LADO
Texto não tem discrepâncias, afirma Lemaire

André Lemaire se disse "surpreso" ao ler a análise de Altman sobre a inscrição do ossuário. "Não encontrei a separação do texto em duas partes que ela aponta, e, se você olhar com cuidado para uma boa fotografia, verá que as letras têm a mesma forma em ambos os trechos", disse à Folha o pesquisador francês.
Lemaire, que é professor da Escola Prática de Altos Estudos da Sorbonne, admite que a evidência linguística mencionada por Flesher é comum nos dialetos mais recentes do aramaico, mas não exclui a hipótese de o trecho ter sido escrito por alguém do século de Jesus.
"O sufixo "-wy" aparece mais cedo também, e um dos melhores exemplos aparece exatamente em outro ossuário do século 1º", afirma. Flesher menciona esse mesmo exemplo em um artigo sobre a inscrição que será submetido a uma revista científica, mas diz que a presença desse sufixo só se torna comum no século 2º.
Lemaire explica que sua intenção inicial era publicar a análise do ossuário num periódico científico francês, mas o dono do artefato (o colecionador israelense Oded Golan) pediu que ele o fizesse numa revista em inglês, para que ele pudesse entender a pesquisa.
"Mesmo levando em conta o fato de que o "Biblical Archaelogy Review" não é uma revista científica e se dirige a um público mais amplo, eles têm um bom comitê científico e são capazes de avaliar um trabalho como esse", diz o pesquisador francês.
"Entendo muito bem o medo de que a inscrição seja forjada. Mas o ossuário se encaixa perfeitamente no que sabemos sobre estilo de escrita, língua e artesanato da época", afirma Lemaire.
A "Biblical Archaelogy Review" anunciou que vai tratar da controvérsia nas próximas edições. "Mas os estudiosos com quem conversamos não concordam com Altman", diz Steven Feldman, editor da revista. (RJL)

 

Texto 8

Inscrição de irmão de Jesus é falsa




DA ASSOCIATED PRESS 19/06/2003


Uma inscrição criando um suposto vínculo entre um antigo ossário e o irmão de Jesus, Tiago, é uma falsificação moderna sem relação com figuras do Novo Testamento, disse ontem a Autoridade de Antiguidades de Israel.

O ossário, empregado para sepultar ossos humanos em tempos antigos, havia sido saudado no cenário arqueológico, no final do ano passado, como uma descoberta extraordinária, que teria abrigado os ossos de Tiago, o irmão de Jesus de Nazaré.

Outros especialistas disseram na época que a inscrição, "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", poderia ter sido falsificada, e que a caixa seria de um outro Tiago, sem parentesco com Cristo.

No Novo Testamento (Mateus, capítulo 13, versículo 55), há uma menção a Tiago como irmão de Jesus. Mais tarde ele se tornaria líder da Igreja em Jerusalém.

As autoridades israelenses descreveram como "falsificações" a inscrição de Tiago e um outro achado arqueológico conhecido como "inscrição Yoash". "As inscrições, provavelmente gravadas em dois estágios separados, não são autênticas", disse a Autoridade em comunicado.

A inscrição de Tiago atravessa a pátina (fino depósito de resíduos sobre uma superfície ao longo de muito tempo) da antiga caixa de calcário. Segundo especialistas, isso prova que ela não é antiga.

"A inscrição parece nova, escrita em tempos modernos por alguém que tentou reproduzir caracteres antigos", afirma o comunicado. As autoridades israelenses chegaram a suas conclusões após exames intensivos por vários comitês de especialistas.

O israelense Oded Golan, proprietário do ossário, desqualificou as conclusões oficiais. "Estou certo de que o comitê está errado em suas conclusões", afirmou. Golan disse ainda acreditar que seja autêntica a inscrição Yoash, com a qual também teve conexão.

A Autoridade de Antiguidades de Israel e a polícia de Jerusalém iniciaram investigações separadas sobre os dois itens depois que Golan pôs um deles à venda.

A inscrição Yoash é uma prancha do tamanho de uma caixa de sapato, do século 9º a.C., gravada com 15 linhas em hebraico antigo com instruções para a manutenção do Templo de Jerusalém.

Ao ser apresentada dois anos atrás, causou furor no mundo arqueológico, com alguns especialistas dizendo que era uma rara confirmação da narrativa bíblica. Mas o especialista em linguagem bíblica Avigdor Horowitz, que integrou um dos comitês investigadores, disse que nenhuma das passagens estava isenta de erros linguísticos.

A existência do ossário de Tiago havia sido revelada em novembro do ano passado numa entrevista coletiva da publicação especializada "Biblical Archaeology Review", em Washington. O objeto chegou a ser avaliado entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões.
O presidente da Autoridade de Antiguidades de Israel, Shuka Dorfman, disse que o exame da inscrição conduziu a uma conclusão unânime e inequívoca.

(Leia o texto 11, o mais recente, o descobridor do ossuário foi inocentado)



Texto 9

Fraude Histórica

Dono de falsa relíquia é preso em Israel
O colecionador de antiguidades israelense Oded Golan foi preso em Tel Aviv sob suspeita de ter forjado artefatos ligados a Tiago, irmão de Jesus, e ao Templo de Jerusalém, afirmou ontem a polícia israelense. Golan foi preso anteontem e levado a um tribunal de Jerusalém, no qual a polícia mostrou equipamento usado para fabricar as fraudes apreendido em sua casa, como estênceis (folhas especiais para fazer cópias) e pedras. Ele foi detido provisoriamente por quatro dias, numa delegacia de Jerusalém. Golan era dono do ossuário com a inscrição "Tiago, filho de José, irmão de Jesus", e de uma tábua que continha instruções para a reforma do Templo de Jerusalém. Ambas as descobertas, por serem supostamente evidências arqueológicas de passagens bíblicas, causaram furor no mundo religioso e arqueológico, mas depois foram consideradas fraudes.
(DA ASSOCIATED PRESS) 23/07/2003

(Leia o texto 11, o mais recente, o descobridor do ossuário foi inocentado)



Texto 10
O Ossuário é realmente uma fraude? 
(Leia o texto 11, o mais recente)

Desde a publicação do ossuário no qual Tiago, o irmão de Jesus teria sido enterrado, um debate sem precedentes se instalou tanto entre os especialistas como no público leigo, e o tema parece não querer morrer.
O maior problema com relação à descoberta é que o ossuário é proveniente de uma coleção particular e não foi encontrado através de uma escavação legalmente documentada. Por esta razão a autenticidade do documento tem que ser provada, se for possível.
Especialistas de vários campos analisaram o ossuário. O exame mais crítico foi uma análise microscópica da patina (a camada de erosão) que se desenvolveram nas letras após elas terem sido esculpidas na lateral do ossuário. Os resultados foram positivos - a patina é genuína. Este resultado persuadiu muitos a concluir pela autenticidade do ossuário. 
O Museu Real de Ontário, para aonde por negligência da Israel Antiquities Authority (IAA) a urna foi levada por três meses, examinou também o ossuário por luz ultra-violeta. Esta luz pode, algumas vezes detectar, manipulações modernas em antiguidades, mas o ossuário passou igualmente neste teste.
Quando o ossuário retornou a Israel, o IAA assumiu custódia dele e um comitê especial consistindo de especialistas de vários campos re-examinaram a urna. Na análise microscópica a patina parecia ser genuína, mas os geologistas também aplicaram outro tipo de teste. Trata-se de uma nova técnica que conta a quantidade de isótopos de oxigênio na patina das letras. O resultado foi negativo. A quantidade de oxigênio era diferente daquela encontrada na patina de outros artefatos de 2000 anos de idade.  O IAA apresentou este resultado juntamente com a opinião negativa da maior parte dos arqueólogos integrantes do comitê.
Mas isto apenas reiniciou o debate. Em 27 de julho de 2003 o "Cinematique" de Jerusalém convidou a imprensa e outras pessoas ligadas ao tema para assistirem a apresentação de um programa de TV sobre o ossuário realizado alguns meses antes. Seguindo ao programa um painel de especialistas israelenses se engajou em uma discussão aberta. Surpreendentemente, a maior parte dos especialistas eram favoráveis à aprovação da autenticidade do ossuário. A impressão que algumas pessoas tiveram de que os estudiosos Cristãos tendiam a aprovar enquanto Judeus/Israelistas tendiam a ser contra, está agora comprovadamente errada.
Um convidado especial que compareceu ao painel foi Oded Golan, o proprietário da urna. Alguns dias antes ele tinha sido libertado da prisão aonde sofreu um longo interrogatório. Golan reclamava a autenticidade e até sugeria uma conspiração por parte do IAA contra ele.
Shimcah Yakobovitch, o diretor do programa de TV, apresentou o verdadeiro ponto de atrito. Alguns dias antes ele entrevistara o chefe da Israel Geological Survey perguntando a ele em detalhes sobre o teste de isótopo que eles aplicaram nas letras da patina. Ele obteve uma afirmação bastante interessante como resposta. Parece que a contaminação pode ser causada por duas coisas:
1. Quando um fraudador insere patina falsa nas letras e   2. Quando as letras são limpas por uma pano seco - e isto era exatamente o que Golam afirmava: 
"Eu possuo o ossuário por mais de 15 anos. A maior parte deste e tempo ele esteve em casa de parentes. É bastante possível que minha mãe tenha limpado ele, ocasionalmente, para retirar a poeira."

Portanto, é autêntico ou não?
Parece que nenhum lado pode estar totalmente convencido. Golan e tudo que ele diz é muito suspeito. Golan poderia ter obtido um ossuário antigo e forjado as inscrições esculpindo em todo ou em parte. Ou pode ter, recentemente, comprado de um túmulo saqueado na região de Jerusalém. Ele sabia da lei israelense sobre antiguidades, pela qual qualquer artefato achado ou comprado,posteriormente a 1978, pode ser confiscado pelo Estado, e assim criou esta estória de que possuía o ossuário há muito tempo e que só recentemente se deu conta de sua importância.
Mas não está em julgamento a credibilidade de Golan e sim a credibilidade do ossuário. Com os dados atuais parece que não pode ser comprovada a falsidade do ossuário. Mas desde que não sabemos sua origem, também não podemos provar sua autenticidade. 
Ron Kehati, um membro da unidade anti-roubo do IAA disse que é apenas uma questão de tempo para Golan ir a julgamento, e que existem tantas acusações contra ele que é quase absolutamente certo de que ele irá para a prisão. A única pergunta é por quanto tempo.
Observação do autor do site: ele foi condenado a 25 anos de prisão. Como Israel não é o Brasil, ele encontra preso, na penitenciária.


Texto 11: 
Peritos negam que ossuário de irmão de Jesus seja falso

Depois de cinco anos de processo, Justiça israelense afirma que caixa mortuária de Tiago tem dois mil anos e encerra o caso (Revista Istoé, edição 2140)



Ela pesa 25 quilos. Tem 50 centímetros de comprimento por 25 centímetros de altura. E está, indiretamente, no banco dos réus de um tribunal de Jerusalém desde 2005. A discussão em torno de uma caixa mortuária com os dizeres “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” nasceu em 2002, quando o engenheiro judeu Oded Golan, um homem de negócios aficionado por antiguidades, revelou o misterioso objeto para o mundo. A possibilidade da existência de um depositário dos restos mortais de um parente próximo de Jesus Cristo agitou o circuito da arqueologia bíblica. Seria a primeira conexão física e arqueológica com o Jesus do Novo Testamento. Conhecido popularmente como o caixão de Tiago, a peça teve sua veracidade colocada em xeque pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA). Em dezembro de 2004, Golan foi acusado de falsificador e a Justiça local entrou no imbróglio.No mês passado, porém, o juiz Aharon Far­kash, responsável por julgar a suposta fraude cometida pelo antiquário judeu, encerrou o processo e acenou com um veredicto a favor da autenticidade do objeto. Também recomendou que o IAA abandonasse a defesa de falsificação da peça. “Vocês realmente provaram, além de uma dúvida razoável, que esses artefatos são falsos?”, questionou o magistrado. Nesses cinco anos, a ação se estendeu por 116 sessões. Foram ouvidas 133 testemunhas e produzidas 12 mil páginas de depoimentos.

Golan, o descobridor

Especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Rodrigo Pereira da Silva acredita que todas as provas de que o ossuário era falso caíram por terra. “A paleografia mostrou que as letras aramaicas eram do primeiro século”, diz o professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). “A primeira e a segunda partes da inscrição têm a mesma idade. E o estudo da pátina indica que tanto o caixão quanto a inscrição têm dois mil anos.” O professor teve a oportunidade de segurá-lo no ano passado, quando o objeto já se encontrava apreendido no Rockfeller Museum, em Jerusalém.
Durante o processo, peritos da IAA tentaram desqualificar o ossuário, primeiro ao justificar que a frase escrita nele em araimaco seria forjada. Depois, mudaram de ideia e se ativeram apenas ao trecho da relíquia em que estava impresso “irmão de Jesus” – apenas ele seria falso, afirmaram.
A justificativa é de que, naquele tempo, os ossuários ou continham o nome da pessoa morta ou, no máximo, também apresentavam a filiação dela. Nunca o nome do irmão. Professor de história das religiões, André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, levanta a questão que aponta para essa desconfiança. “A inscrição atribuiria a Tiago uma certa honra e diferenciação por ser irmão de Jesus. Como se Jesus já fosse um pop­star naquela época”, diz ele. Discussões como essa pontuaram a exposição de cerca de 200 especialistas no julgamento. A participação de peritos em testes de carbono-14, arqueologia, história bíblica, paleografia (análise do estilo da escrita da época), geologia, biologia e microscopia transformou o tribunal israelense em um palco de seminário de doutorado. Golan foi acusado de criar uma falsa pátina (fina camada de material formada por microorganismos que envolvem os objetos antigos). Mas o próprio perito da IAA, Yuval Gorea, especializado em análise de materiais, admitiu que os testes microscópicos confirmavam que a pátina onde se lê “Jesus” é antiga. “Eles perderam o caso, não há dúvida”, comemorou Golan.


O ossuário de Tiago, que chegou a ser avaliado entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões, é tão raro que cerca de 100 mil pessoas esperaram horas na fila para vê-lo no Royal Ontario Museum, no Canadá, onde foi exposto pela primeira vez, em 2002. Agora que a justiça dos homens não conseguiu provas contra sua autenticidade, e há chances de ele ser mesmo uma relíquia de um parente de Jesus, o fascínio só deve aumentar.




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Os manuscritos do mar Morto

[Qumran+-+Caverna+3,+J.jpg]
Durante toda a Idade Média, por interesses principalmente políticos e econômicos, a Igreja foi aos poucos agasalhando em seu seio doutrinas e costumes absolutamente contrários ao espírito e ensinos de Jesus e dos apóstolos. Por essa razão, muitas pessoas passaram a temer que a Bíblia também tivesse sofrido alterações significativas. O receio era de que o texto do Antigo Testamento que temos hoje não fosse exatamente aquele no qual Jesus e os apóstolos basearam todos os seus ensinos; que não fosse mais a “Palavra de Deus” como originalmente havia sido escrita. Felizmente, a Arqueologia praticamente acabou com essa dúvida. E tudo graças a um menino!

Em 1947, vasculhando as cavernas do extremamente árido e inóspito lado ocidental do Mar Morto, em busca de uma ovelha perdida, um garoto beduíno encontrou grandes vasos de barro que continham antigos manuscritos escondidos ali. A partir de então, outros beduínos e arqueólogos encontraram, em onze cavernas da região, mais de 800 diferentes manuscritos, incluindo todos os livros do Antigo Testamento, com exceção dos livros de Ester e Neemias. De alguns livros da Bíblia foram encontrados apenas fragmentos; em outros casos, a maior parte do texto foi recuperada. O livro do profeta Isaías foi encontrado praticamente inteiro!

Apenas um dos rolos havia sido escrito em finas folhas de cobre. Todos os demais foram escritos em pergaminho (pele de animal especialmente preparada para essa finalidade). Assim, por terem utilizado material orgânico, esses livros bíblicos puderam ser submetidos ao processo de datação conhecido como Carbono 14. Outro método utilizado para determinar a época em que foram escritos foi a análise paleográfica (análise da forma da escrita, que em cada época tem características típicas). Surpreendentemente, constatou-se que os manuscritos haviam sido produzidos entre o século II a.C. e o século I d.C. – portanto, em dias anteriores e contemporâneos a Jesus! Judeus zelosos dessa época, provavelmente para salvar os livros sagrados de algum perigo iminente, devem tê-los escondido nas remotas e quase inacessíveis cavernas do Mar Morto. E – maior surpresa ainda! – quando comparados, constatou-se que os livros do Antigo Testamento que temos hoje são essencialmente idênticos aos textos que existiam nos dias de Jesus!

Jesus certa vez disse: “Vós examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim” (João 5:39). Como é confortador saber que as Escrituras que temos hoje em nossas mãos são aquelas mesmas que Jesus lia e ensinava!

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)


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Arqueologia desvenda mistérios da Bíblia
As descobertas que mais causaram benefícios para os estudantes da Bíblia foram, sem dúvida, as dos rolos do Mar Morto. Esse achado confirmou a crença de que os escritos da Bíblia são exatos, conforme foram copiados através dos séculos, a partir de uma época anterior ao nascimento de Cristo. Outras descobertas nos ensinam a respeito de costumes nos tempos bíblicos. Alguns nomes específicos e doutrinas mencionados na Bíblia, também foram identificados por meio dessas pesquisas.

Os rolos do Mar Morto que estão completos já foram publicados, como os dois com os manuscritos do profeta Isaías e parte de todos os livros do Antigo Testamento, excetuando-se o de Ester. A única porção ainda não publicada é composta de fragmentos de textos, que são difíceis de serem interpretados. Os eruditos estão idosos e muitas pessoas ficam aborrecidas porque o trabalho de interpretação tem sido vagaroso. Porém, esses fragmentos estão sendo transferidos para profissionais mais jovens, e esperamos que nos próximos anos todos eles sejam publicados. Existe a expectativa de que os resultados trarão novidades animadoras.

Os mais antigos manuscritos, os do Antigo Testamento, são do III século a.C. Os do Novo Testamento datam do II século d.C. Não há diferenças teológicas ou históricas entre os antigos textos e a Bíblia atual. Eles se correspondem exatamente.

Descanso do coração

Possivelmente, o início da civilização ocorreu cinco mil anos atrás, quando começou a urbanização, a especialização de certos trabalhos e a invenção da escrita. Nos escritos dos sumérios, povo que viveu há cinco mil anos, a palavra "sábado" se relaciona com o "sábado de descanso". No caso deles, isso se refere a um dia de descanso semanal. Na língua do sumérios, sábado significa "o descanso do coração". A cada sete dias eles tinham um dia do mal, que não chamavam de sábado.

Os eruditos dizem que o sábado foi trazido pelos israelitas do cativeiro na Babilônia, mas há evidências arqueológicas de que os judeus guardavam o sábado na Palestina antes desse cativeiro. Conforme já disse, na Mesopotâmia, em tempos primitivos, a palavra sábado existia e havia certos dias em seqüência de sete, relacionados com o mês e não com semanas. Isso sugere que existiam sábados de uma forma parecida com o sábado hebreu, mas não exatamente iguais.

O número sete era muito popular nos países do Oriente Médio, mas os judeus foram os únicos que o mantiveram como um dia sagrado. Existem também evidências de que os cristãos continuaram observando o sábado até o terceiro e quarto séculos da Era Cristã. Hoje, embora existam diferenças nos calendários referentes aos anos ou meses, não há desentendimento em relação aos dias da semana.

Dilúvio e Babel

Não temos os ossos para submeter a idade dos antediluvianos a qualquer tipo de análise. Acredito que realmente a idade dos patriarcas chegou a ser em torno de mil anos. É evidente que foi uma era de ouro. As pessoas tinham uma vida muito saudável e feliz. Porém, depois do dilúvio, tornou-se mais difícil viver na face da Terra, e a média de duração da vida dos patriarcas caiu para cem anos.

Há exploradores que vão ao Monte Ararate e tiram fotografias de objetos que atiçam a curiosidade. Também existem muitas histórias e rumores sobre a descoberta da Arca de Noé. Acho que nada disso tem procedência séria e não merece credibilidade. Através de métodos de datação, a ciência indica que restos de uma suposta embarcação encontrada no Ararate remontam ao período bizantino, século VI d.C. Uma era nada antiga em relação ao tempo de Noé.

Só existem as bases da fundação da Torre de Babel. Aparentemente, uma parte da torre resistiu até a época de Alexandre Magno. Quando ele chegou ao local, decidiu reconstruir a torre. Os seus homens cavaram e retiraram as ruínas, começando a preparação de um novo edifício. No entanto, Alexandre morreu nesse intervalo. Se agora visitarmos a região de Babilônia, no Iraque, encontraremos o buraco no qual a torre existiu.

Egito e Arca do Concerto

Na minha opinião, o faraó do Êxodo foi Tutmés III, que morreu em 1450 a.C. A data de sua morte confere com a cronologia bíblica. Apesar da existência da múmia de Tutmés III, no Museu do Cairo, comprovou-se que ela não é a múmia desse faraó. Talvez seja de seu pai ou de seu filho. Pode ser uma múmia substituta que colocaram no lugar do seu túmulo, pois o faraó Tutmés morreu no Mar Vermelho. Chega-se a essa conclusão através de exames de raios X nos ossos da múmia.

Os arqueólogos não encontraram as ruínas dos muros de Jericó porque depois da destruição destes por Josué, a cidade ficou ao relento, sujeita às intempéries da natureza por cerca de 500 anos. A camada mais elevada daquela civilização foi totalmente destruída por erosões, por isso não é possível encontrar remanescentes daquela época. Os arqueólogos encontraram apenas ruínas de túmulos.

O único texto antigo tratando sobre a Arca do Concerto se encontra no segundo livro de Macabeus. O primeiro livro de Macabeus é considerado uma boa fonte histórica, mas o segundo é pouco confiável e, infelizmente, é ele que afirma que Jeremias e seus homens enterraram a Arca no Monte Nebo.

Alguns eruditos dizem que eles não tiveram tempo para transpor o Rio Jordão, e acham que a Arca poderia ter sido escondida no monte em que estava o templo de Salomão. Nesse lugar havia várias cavernas. A verdade é que ela desapareceu durante a destruição de Jerusalém e não sabemos onde ficou. Seria um fato maravilhoso se pudéssemos localizá-la.

Lawrence Geraty, doutor em Arqueologia pela Universidade Harvard, é presidente da Universidade Adventista de La Sierra, na Califórnia, Estados Unidos (texto Baseado em entrevista concedida a Paulo Pinheiro, da Casa Publicadora Brasileira).